O relógio da parede marcava quase duas da manhã quando Clara ainda revisava os relatórios no escritório silencioso. As luzes da cidade entravam pelas enormes janelas de vidro, refletindo-se na mesa de madeira escura. Ela suspirou, ajeitando os óculos, mas o clique discreto da porta a fez erguer os olhos.
Era Miguel. O terno impecável já sem gravata, a primeira camisa aberta, revelando parte do peito marcado pelo dia cansativo. Ele encostou à porta, os olhos fixos nela com uma intensidade que dispensava qualquer explicação.
Você ainda aqui? - a voz grave cortou o silêncio, carregada de algo mais do que simples curiosidade.
Clara tentou sorrir, mas o coração acelerou. Relatórios não se entregam sozinhos.
Ele caminhou devagar até a mesa, os passos firmes no carpete espesso, o perfume amadeirado preenchendo o ar. Parou atrás dela, inclinando-se o bastante para que a respiração quente roçasse sua nuca. Clara fechou os olhos por um instante, sentindo a pele se arrepiar.
Você sabe que está me provocando, não sabe? murmurou, os lábios quase tocando sua orelha.
Ela engoliu seco, mas não respondeu. Apenas levantou-se, ficando frente a frente com ele. O olhar firme, desafiador. O silêncio pesado foi quebrado quando Clara segurou o colarinho aberto da camisa dele e puxou-o para perto, selando seus lábios num beijo urgente, cheio de desejo contido por meses.
A mesa de trabalho tornou-se cúmplice da transgressão: papéis espalhados, canetas rolando para o chão enquanto Miguel a erguia, sentando-a sobre a superfície fria. As pernas dela se abriram para recebê-lo, o corpo arqueando ao sentir as mãos firmes deslizando pela cintura.
Isso é loucura… — ela sussurrou entre beijos, a voz entrecortada.
É o que torna tudo irresistível — respondeu ele, prendendo o lábio inferior dela entre os dentes, como quem marca território.
O relógio continuava avançando, mas o tempo parecia suspenso. A cada toque, a cada gemido abafado contra os vidros do arranha-céu, a noção de certo e errado se perdia. Era proibido, era arriscado e justamente por isso, era impossível parar.
Quando finalmente se afastaram, ofegantes, Clara ajeitou os óculos com as mãos trêmulas, mas o sorriso no rosto revelava a rendição. Miguel a encarou, os olhos escuros ardendo como se prometessem que aquilo não seria um segredo de apenas uma noite.